Jesus não é um semeador de ideias e nem o criador de uma filosofia de vida. Na base de toda a sua ação há uma proposta de seguimento em vista de um serviço. No episódio da escolha dos primeiros discípulos, tal como nos é relatada no Evangelho de Marcos (1,16-20), é interessante observar que o convite a segui-lo precede a explicitação de seu programa. Isso mostra que o Evangelho não é uma ideologia e que os discípulos não integram um grupo que adere às ideias de Jesus. Na base de tudo há uma atitude de confiança e uma adesão incondicional à pessoa de Jesus.
Embora possa parecer irrelevante, este dado reveste uma importância decisiva. A comunhão de vida, no relacionamento interpessoal, cria um espaço significativo que possibilita uma visualização da realidade a partir de dentro. À medida que essa relação pessoal se aprofunda, a pessoa de Jesus e seu projeto ganham nova luz. As pessoas que amamos são sempre importantes. Somente a experiência do amor possibilita a emergência de determinados valores.
Quem lê hoje os Evangelhos em atitude ingênua fica maravilhado com a espetacularidade da pessoa e da atuação de Jesus: o próprio Filho de Deus andando pelas cidades, campos e aldeias, operando prodígios sem conta.Bons tempos aqueles em que Deus podia ser encontrado de repente numa esquina de Jerusalém ou nas estradas poeirentas da Palestina! Mas como explicar a indiferença dos romanos e a hostilidade de escribas e fariseus? Parece-nos que somente o seguimento tem condições de nos fornecer a chave de leitura. Para saber quem é Jesus e captar a originalidade de sua mensagem, é preciso segui-lo.
Os relatos dos episódios miraculosos sempre estão associados a uma experiência de fé. Invertendo a sentença tradicional, poderíamos dizer: é preciso crer para ver. A espetacularidade de que nos dão testemunho os Evangelhos é a explicitação de uma luz que somente um olhar a partir de dentro é capaz de captar. Expectadores indiferentes, como foi o caso dos romanos, veriam nele um homem mais ou menos comum, quem sabe com algum destaque em termos de liderança e personalidade. A incredulidade de escribas e fariseus está ligada a uma atitude de fechamento própria de quem se recusa a uma proposta de seguimento.