A perseguição e o sofrimento fazem a comunidade esperar ansiosamente pela chegada imediata do Senhor. Os apocalípticos tinham como preocupação básica o fim dos tempos: “Quando essas coisas acontecerão?” (Dn 12,6). No Antigo Testamento, o Dia do Senhor é compreendido como o dia do julgamento (Is 2,12-22; Jr 46,10; Ez 30,2-3; Am 5,18-20; Ml 3,13-21), porém, nas primeiras comunidades cristãs, tornou-se uma referência ao dia da vinda de Jesus Cristo (cf. 1Cor 15,23; 2Pd 3,10; Ap 3,3; 16,15).
Diante das possíveis indagações dos tessalonicenses sobre a hora desses acontecimentos, ouvimos a seguinte resposta: “Vocês sabem muito bem que o Dia do Senhor virá como um ladrão à noite” (1Ts 5,2). De acordo com os ensinamentos, o dia e a hora são incertos; por isso, é preciso assumir uma atitude de constante vigilância (cf. Mt 24,43; 2Pd 3,8-10). Para reafirmar a necessidade de uma espera ativa e confiante, Paulo usa as imagens de “ladrão” e “parto de mulheres”, que eram comuns para expressar situações inesperadas e de sofrimento. A vivência da fé, da esperança e do amor sustenta a comunidade e a prepara para o Dia do Senhor (cf. 1Ts 1,2-3; Fl 4,2-9).
Dirigindo-se aos fiéis, Paulo afirma que eles já saíram da ignorância e não precisam ter medo, pois estão preparados (1Ts 5,4). Conforme a linguagem da época, Paulo usa as imagens de luz e trevas, contrapondo assim salvação e condenação, bem e mal. A livre adesão ao evangelho garante aos fiéis a salvação, ou seja, a participação no Reino estabelecido por Jesus Cristo.
É preciso que os “filhos da luz” (cf. Is 58,8; Mt 5,14-16) estejam alertas: “não fiquemos dormindo como os demais. Fiquemos sóbrios e acordados” (1Ts 5,6). A exortação de Paulo dirige-se a todos os fiéis, inclusive a si mesmo. O que significa estar vigilante? Trata-se de uma vida pautada por uma fé ativa, pelo amor – serviço ao outro – e pela esperança (cf. 1Ts 5,3.8).
Crer, amar e esperar sintetiza a vida em Cristo. Os termos opostos, luz e escuridão, identificam os que creem e os que não creem. No versículo 8, há uma forte convocação para que os cristãos revistam a armadura da fé e do amor, e o capacete da esperança da salvação (cf. Is 59,17; Sb 5,17-23; Ef 6,14-17).
A partir da convicção de Paulo e seus colaboradores, o projeto de Deus é a salvação para todos os que creem em Jesus Cristo: “Ele morreu por nós, para que, acordados ou dormindo, vivamos com ele” (1Ts 5,10). Os acordados são os que estiverem vivos no dia da vinda do Senhor; os que estão dormindo são os mortos. A garantia da salvação futura para os fiéis em Cristo é o fato de que ele se entregou por nós: “De fato, se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele por meio da morte do seu Filho, muito mais agora, reconciliados, seremos salvos por meio da sua vida” (Rm 5,10).
Essa passagem conclui com uma exortação aos fiéis: “encorajem-se uns aos outros e se edifiquem mutuamente, como, aliás, vocês já estão fazendo” (1Ts 5,11). A convocação para “edificar-se mutuamente” é importante para o fortalecimento e permanência do grupo, como aparece também na carta aos Coríntios (cf. 1Cor 14,12.17.26). Ao edificar-se uns aos outros, a comunidade de Tessalônica está realizando as mesmas atitudes de Paulo e de seus colaboradores (1Ts 2,11-12).
É no amor mútuo que se constrói a vida fundamentada em Cristo crucificado e ressuscitado: “espera ativa”. Eis o nosso desafio hoje, especialmente no contexto da sociedade individualista em que vivemos. É preciso apostar e acreditar num projeto que tenha como objetivo o bem comum: “Fiquemos sóbrios com a fé, o amor e a esperança”.
- O fariseu Paulo e sua adesão ao Messias crucificado e ressuscitado: “espera ativa”
Em imagens noturnas, tive esta visão: entre as nuvens do céu vinha alguém como um filho de homem. Chegou perto do Ancião e foi conduzido à sua presença. Foi-lhe dado poder, glória e reino, e todos os povos, nações e línguas o serviram. O seu poder é um poder eterno, que nunca lhe será tirado. E o seu reino é tal que jamais será destruído (Dn 7,13-14).