O patronato era um fenômeno tão abrangente no mundo greco-romano que essa rede estava estabelecida na sociedade como um todo. A criação de associações, geralmente marcadas pelo patronato, por exemplo, era muito comum nos centros urbanos do Mediterrâneo, com um constante vaivém de pessoas de várias regiões. As inscrições descobertas nas grandes cidades atestam a existência de várias associações, como a dos comerciantes, a dos tintureiros de púrpura, a dos fabricantes de jugo etc.
Em geral, os homens mais destacados fundavam as associações, formadas por pessoas que se ocupavam do mesmo ofício para promover contatos sociais e proteger seus interesses particulares, incluindo distribuição de comida, organização de sepultura, atendimento a viúvas e crianças órfãs etc. Nas reuniões, os homens poderosos e ricos, que patrocinavam as associações, eram homenageados pelos membros menos favorecidos.
Os pobres preferiam ter os homens influentes como patronos para serem protegidos e beneficiados por eles. Contudo, na política e na economia, ficavam amarrados aos interesses desses patronos ricos, que se tornavam cada vez mais ricos e poderosos.
A estrutura de base de muitas associações era uma hierarquia patronal. Por exemplo, os membros dessas associações se reuniam pelo menos uma vez por mês, geralmente em ocasiões de festas, sobretudo em honra da divindade protetora. O culto às suas divindades era uma forma de alimentar o senso de proteção e de unidade do grupo. A reunião costumava ser na forma de uma refeição comunitária: o banquete patronal (deipnon).
Normalmente, esse banquete se realizava nas casas dos patronos poderosos e obedecia a certas normas. Os convidados, por exemplo, sentavam-se de acordo com sua posição social: de um lado, os ricos, os poderosos e os influentes; de outro, os libertos, os pobres e os escravos (cf. Lc 14,7-11).
Os ricos eram recebidos no refeitório – triclínio – com tapetes e assentos confortáveis, onde se acomodavam, em média, de oito a dez pessoas. Eram os primeiros a ser servidos, recebendo os melhores alimentos. Os pobres eram acomodados no átrio, uma espécie de pátio, parcialmente coberto e menos confortável que o triclínio. A maioria das pessoas ficava em pé, encostada em alguma parede ou pilastra, e recebia comida e bebida inferiores. A estratificação social estava bem presente!
Tudo isso fazia parte da estratégia de dominação. O sistema patronal estava presente em todas as dimensões da sociedade como também nas associações, e era quase impossível viver à sua margem. A hierarquia da sociedade de patronato e clientelismo dividia os pobres, atrelava-os aos interesses de seus patronos e dificultava o surgimento de um movimento de resistência e de protesto contra os poderosos patrocinadores. Abafava e engolia a exploração, a violência e a humilhação, o sofrimento, o desespero e a revolta dos pobres no mundo greco-romano opressor.
Todavia, uma das associações, denominada “cristã”, estava na contramão do patronato. Ela tentava promover a solidariedade com os pobres e não se deixar corromper pelas estruturas injustas de patronato e clientelismo. Procurava não fazer distinção entre as pessoas, diferentemente do mundo greco-romano, que praticava a injustiça, privilegiando os ricos e os detentores do poder.
Daí o princípio fundamental que orientava a ação cristã: o amor ao próximo, manifestado na vida concreta de Jesus, o Messias encarnado. Tal ação era exercida sem esperar nada em troca, sem deixar quem recebia os benefícios desse amor em situação de dependência e submissão.
No seguimento de Jesus, a comunidade cristã identificava o próximo com os pobres, os oprimidos e os marginalizados do mundo do império, baseado na riqueza e no poder: “Pois tive fome e vocês me deram de comer, tive sede e me deram de beber, era estrangeiro e me acolheram, estava nu e me vestiram, estava doente e me visitaram, estava na cadeia e vieram me ver” (Mt 25,35-36). Segundo os evangelhos, a opção de Deus pelos pobres foi assumida pela comunidade cristã – associação que professava a fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado.