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A profecia está a serviço de quem?
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A profecia está a serviço de quem?

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A própria Bíblia testemunha o fenômeno profético com diversos termos: adivinhos, videntes, homens de Deus e profetas. O último é o substantivo nabi’ em hebraico, derivado do verbo naba’, que significa “profetizar, predizer, delirar, entrar em transe”, por causa da função intermediária de interpretar, anunciar e receber a palavra e a bênção de Deus.

O livro de Números, por exemplo, relata a história de Balaão, adivinho das margens do Eufrates, a quem o rei Balac, de Moab, recorre para obter maldições de Deus contra Israel, na guerra (Nm 22,2-24,25). O rei Acab também consulta os 400 profetas da corte por ocasião da guerra contra a Síria pela disputa territorial de Ramot de Galaad, na Transjordânia (1Rs 22,1-12). O grupo de profetas vive e come à mesa do rei.

Profetas que vivem em grupo aparecem já na história da unção de Saul: “Daí partiram para Gabaá, e um grupo de profetas foi ao encontro de Saul. O espírito de Deus desceu sobre ele, que entrou em transe profético no meio deles” (1Sm 10,10). Os grupos de profetas seguem aparecendo na época de Elias (1Rs 18,4) e de Eliseu: “Os filhos de profetas que havia em Jericó se aproximaram de Eliseu e disseram: ‘Você sabe que Javé vai levar hoje o seu mestre por cima de sua cabeça?’” (2Rs 2,5). Os profetas em Israel persistem, como grupos ou indivíduos, até um pouco depois do tempo do exílio.

Há muitas pesquisas sobre o fenômeno profético. Nos últimos anos, com base nos estudos da história e da sociedade, é possível indicar as três áreas em que podemos analisar e entender os profetas:

a) O grupo de apoio: os profetas adquirem conhecimento para expressar suas mensagens, em palavras e ações, conforme a expectativa de seu grupo social de apoio. Eles se formam na “escola” mantida pelo grupo, que espera de seus intermediários determinado comportamento profético ao agir e falar. Samuel e Aías, por exemplo, formaram-se no santuário de Silo, “escola” mantida pelos camponeses do Norte, do Israel tribal (1Sm 1-3; 14,3).

b) Localização social da profecia: o profeta e seu grupo de apoio se situam em determinada localização social: no centro ou na periferia da sociedade. É importante estudar a sociedade na qual cada profeta atua e a sua localização social. Amós, que não é profeta da corte, localiza-se na periferia da sociedade (Am 7,15), no reinado do rei Jeroboão II, com seus sacerdotes e profetas do centro.

c) Função social da profecia: o profeta do centro expressa suas mensagens para manter a ordem social estabelecida; ao contrário, o profeta da periferia interessa-se pela mudança da ordem social. A Bíblia testemunha que Natã, profeta do centro da casa de Davi e de Salomão, pronuncia seus oráculos para manter a posição social de seus reis (1Rs 1-3).

Por outro lado, o profeta Aías, com o grupo tribal dos camponeses do Norte, simbolizado por “tendas”, proclama a mudança na ordem social contra a casa de Davi, Judá, a cidade de Jerusalém: “O que é que nós temos a ver com Davi? Não temos herança com o filho de Jessé. Para as suas tendas, Israel! Agora, que Davi cuide de sua casa!” (1Rs 12,16).

Com base nessas três áreas de análise do fenômeno profético, podemos descrever Miqueias como profeta periférico, que atua entre 725-701, nos reinados de Acaz e Ezequias. Ele se forma na “escola” apoiada e mantida pelos camponeses da região da Shefelá. O próprio Miqueias chama, carinhosamente, seu “grupo de apoio” de “meu povo” e defende a vida do seu grupo contra a elite governante: “Vocês são gente que devora a carne do meu povo e arranca suas peles; quebra seus ossos e os faz em pedaços, como um cozido no caldeirão” (Mq 3,3). Como profeta periférico, Miqueias pronuncia os gemidos e gritos dos camponeses para produzir mudança da ordem social (Mq 3,9-10.12; cf. Jr 26,18).

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