Outro desafio imposto pela atualidade é quanto ao tempo da catequese. Quanto tempo deve durar a catequese? Ela tem início, meio e fim? Ela deve ser encerrada quando acontece a recepção dos sacramentos da iniciação cristã? A crise do processo catequético tradicional revelou que a catequese sacramental está em queda livre; ela dá mostras de prazo de validade vencido. Nessa catequese deveria aparecer a inscrição “válida somente no período da cristandade”. Desfeita a casa da cristandade com a tempestade da secularização, a catequese ficou desabrigada e não pode mais criar seus filhos ao relento. Precisa se reinventar e achar outro aconchego, mesmo em meio a hostilidades e rejeições.
Sabemos por observação da história que a catequese de cunho sacramental não é capaz de iniciar eficazmente na fé; ela tornou-se um curso direcionado à recepção dos sacramentos, sem implicações profundas na vida dos catequizandos.
Na concepção de Alberich, essa catequese dá mostras de ser “uma práxis pastoral paralisada de certo modo pela inércia operativa, que se encontra deslocada diante dos desafios do mundo atual” (ALBERICH, 2013, p. 39). Portanto, continua o autor, “parece necessário difundir uma nova mentalidade e conceber um renovado projeto pastoral” (ALBERICH, 2013, p. 39).
O desafio atual é, pois, superar a prática catequética do modelo de curso preparatório para a primeira comunhão e a crisma, que põe termo à iniciação cristã em vez de realmente cumprir seu papel de iniciação. A fé, antes entendida como pronta e acabada, hoje é compreendida como uma “eterna iniciante” (CARMO, 2016, p. 226), pois Deus não cessa de nos dirigir sua palavra e nos interpelar para entrar no seu projeto. Se assim o é, o processo catequético deve ser contínuo, permanente. Ele deve favorecer um espaço de convivialidade, de experiência do mistério pascal, no qual o catequizando encontra forças para viver e se realizar como pessoa (CARMO, 2016, p. 226).
O mistério pascal que a comunidade eclesial anuncia, celebra e vive é o meio no qual o cristão encontra a vida, o Ressuscitado que a nutre. A fides qua, a eterna iniciante, depende desse meio para fazer seu movimento. Ela não é um ponto de partida nem de chegada, mas uma busca contínua, um devir, o que nos faz pensar em uma catequese permanente. […]
Ninguém atinge a maturidade da fé a ponto de poder se dispensar de continuar buscando. […] A catequese não pode se dar por satisfeita por levar crianças, jovens e adultos até os chamados sacramentos da iniciação. Somos todos eternos iniciantes, peregrinos da fé, que não encontram sua alegria a não ser em fazer esse caminho permanente (CARMO, 2016, p. 226).
Se a busca contínua da maturidade é condição sine qua non da fé cristã, ou seja, se o cristão é um eterno aprendiz ou iniciante, não há razões para continuar insistindo numa catequese que se organiza como um curso preparatório para a recepção dos sacramentos. A catequese tem estatuto próprio e não depende dos sacramentos. Ela deve ser pensada para todas as idades, sobretudo para aqueles que já receberam os primeiros sacramentos da fé, pois a fé é devir, uma “busca permanente de maturação da qual nenhum cristão está dispensado” (CARMO, 2016, p. 226).
Encarar a catequese como um processo permanente exige
repensar a prática eclesial evangelizadora com os adultos.
Ainda hoje, a catequese, na maioria das nossas comunidades, é, sobretudo, catequese infantil. Há muitos anos se insiste na urgência e no primado da catequese para adultos e na necessidade de a catequese favorecer o crescimento de uma fé adulta numa Igreja adulta. Mas a realidade encontra-se ainda muito longe dessas proclamações solenes. A catequese para adultos nunca consegue tomar impulso, enquanto se despende a maior parte dos esforços catequéticos na catequese das crianças e dos adolescentes. Explica-se, destarte, o caráter muitas vezes infantilizante da práxis catequética, ainda distante das exigências e características de uma fé adulta no mundo de hoje (ALBERICH, 2013, p. 39).
Demasiada energia é gasta na catequese infantil, o que não significa – é claro – que ela deve ser esquecida. Enquanto isso, faltam investimentos na catequese com os adultos, quando esta existe. Mas também o adulto não tem necessidade de aprofundar a sua fé, dado que, na grande maioria das vezes, seu processo catequético foi ainda no período de sua infância? Não se pode esquecer que “para cada idade há um estágio próprio de maturação e que a maturidade cristã é contínuo devir” (CARMO, 2016, p. 227). A catequese com adultos,
Não diz respeito somente ao aprofundamento das questões doutrinárias, de corrigir uma ou outra representação de Deus – apesar de isso ser de máxima importância. Podemos cair no risco de pensar que todo o mal da Igreja ou da catequese se resume no pouco esclarecimento dos fiéis, como se um bom curso de teologia para leigos resolvesse o problema. A questão é bem mais exigente. O que está em jogo, como lembra Lacroix , é a retomada de um caminho de fé que foi interrompido prematuramente; o recomeço de uma iniciação mal acabada – ainda que sacramentalmente ela tenha ido até seu limite máximo na recepção de todos os sacramentos da iniciação. Estamos lidando com um percurso que exige mais do que formação intelectual. Essa caminhada exige experiências pessoais significativas, acompanhadas por ritos e etapas litúrgicas que marquem o itinerário de forma profunda, por experiências de fraternidade e engajamento (CARMO, 2016, p. 227-228).
A catequese de adultos se revela como uma oportunidade para recomeços, para dar continuidade à caminhada que fora interrompida tão precocemente na infância. Urge criar oportunidades, espaços e tempos, para que todos tenham ocasião de continuar sua formação e aprofundamento na fé em Cristo. Trata-se de uma verdadeira marcha dos recomeçantes.
3 A PALAVRA DE DEUS NO CORAÇÃO DA CATEQUESE