O homem encontra Deus quando ele faz suas experiências humanas mais profundas e significativas. É a partir dessa profundidade original que ocorre a revelação de Deus como uma de suas significações. Para o homem que crê, ela é, de todas, a mais importante. Em síntese, poderíamos dizer que o anúncio do Reino de Deus é o anúncio de uma possibilidade que é gratuitamente oferecida ao homem para que ele realize, em si mesmo e na globalidade da História, a plenitude da vida.
O Reino de Deus, por conseguinte, é um projeto global que envolve tudo o que no homem é profundo e significativo. Mas exatamente por isso ele se traduz em explicitações e exigências particulares. Cada uma delas só ganha sentido na globalidade do projeto. O que segue configura uma tentativa de visualizar algumas dessas exigências.
a) Os valores
Não constitui exagero (assim pelo menos nos parece) afirmar que o anúncio de Jesus tematiza os valores mais importantes que se enraízam na profundidade do humano. Nem sempre tais valores são cômodos. Poucos homens os consideram autenticamente como valores. Talvez seja essa a razão pela qual a pregação de Jesus tenha encontrado tão pouca ressonância entre os homens de seu tempo. Alguém poderia objetar que Jesus sensibilizou e arrastou multidões. É um dado que os Evangelhos atestam com muita ênfase. Mas não se pode esquecer que os Evangelhos foram escritos a partir da experiência pascal.
Por outro lado, restaria por explicar o quase total silêncio da literatura judaica e romana a respeito de Jesus e do processo que ele desencadeou. Se compreendermos, porém, que Jesus atuou no universo dos valores humanos mais autênticos, poucas vezes reconhecidos como tais, poderemos concluir que sua proposta só encontrou ressonância entre os homens que já se situavam no horizonte daquele universo valorativo. Esses foram os pequenos, os pobres, os marginalizados: todos quantos a literatura oficial considera por demais insignificantes para serem considerados protagonistas da História.
Conversão, fraternidade, justiça, partilha, comunhão, simplicidade, gratuidade, doação: são valores fundamentais, mas de escasso valor comercial. Ao propô-los como exigências irrenunciáveis para quem quisesse encontrar o Deus da vida, Jesus provocou uma profunda crise nas instituições de Israel. A acusação que lhe foi feita de estar subvertendo a ordem corresponde inteiramente à verdade. As piedosas considerações que pretendem inocentá-lo, dizendo que ele foi acusado injustamente, carecem de realismo histórico.
Jesus atingiu o âmago do universo valorativo dos homens de seu tempo. Ele é inocente para a Justiça de Deus, na medida em que foi fiel àquilo que há de mais autenticamente humano, não, porém, para a justiça dos escribas e fariseus. Aqui sua condenação obedece a uma estrita legalidade. As verdadeiras revoluções são sempre aquelas que se operam a partir de dentro, na profundidade, atingindo os valores mais significativos da vida. As mudanças fatuais permanecem inócuas se não as acompanham revoluções significativas. O verdadeiro culto a Deus só é possível quando se elimina a idolatria, e não quando, se substituem os ídolos.
B) O valor da partilha