Pelo contrário, está relacionada com a palavra hebraica para designar a compaixão, rachamim, que se refere ao útero de Javé. Na verdade, a compaixão é uma emoção tão profunda, central e poderosa em Jesus, que só pode ser descrita como um movimento do útero (âmago) de Deus. Nele, está oculta toda a ternura e toda a bondade divina. Nele, Deus é pai e mãe, irmão e irmã, filho e filha. Nele, todos os sentimentos, emoções e paixões são uma só coisa no amor divino. Quando Jesus era movido de compaixão, a fonte da vida tremia, o solo de todo amor explodia, e se revelava o abismo de ternura imensa, inexaurível e insondável de Deus”.
Essa longa citação nos ajuda a compreender a importância de novo conceito de Deus Pai, que se aproxima mais da vida, da prática e da compaixão de Jesus. Na verdade, a frase para Filipe deve ressoar em nós de forma bastante intensa: “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9). Tendo os mesmos sentimentos de Jesus, nós estaremos sendo imitadores do — próprio Deus Pai, com coração de Mãe!
2. Reconstruir a utopia do Reino: “Reconstruir o céu, para transformar a terra” (Mc 1,14-15; Is 65,17-25; Ap 21,1-7)
Ao celebrar a chegada do novo milênio, somos convidados a retomar o projeto de Deus, que quer vida, e vida abundante, para seu povo, seus filhos e filhas. Não podemos abrir mão deste projeto de salvação, mesmo quando toda a ideologia dominante diga o contrário. Se negarmos esse projeto de Deus que inclui todos os seus filhos e filhas, como também a própria natureza, a terra mãe e o próprio cosmo, estaremos traindo a memória da tradição judaico-cristã. Celebrando o Deus Pai, com coração de Mãe, temos de enfrentar o sistema de exclusão que busca implantar-se no mundo inteiro.
Esse sistema, denominado neoliberalismo, quer impedir o povo de sonhar. Suscita nele a fascinação pelo consumo, movido pelo mercado, que se tornou o “Senhor da vida e da morte”. É o Mercado hoje que determina quem vive ou quem morre; quem trabalha ou quem fica sem emprego! Somos chamados a retomar a crítica ao neoliberalismo e hoje, com o aval de João Paulo II, na sua Exortação Apostólica Pós-Sinodal — Ecelesia in America, 56: