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A força histórica dos pobres: profecia ou demagogia?
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A força histórica dos pobres: profecia ou demagogia?

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Como conciliar esta opção com a universalidade da salvação? Estariam os ricos excluídos justamente por serem ricos? Semelhante interpretação entraria em conflito com a incondicionalidade da Graça que, justamente por ser dom e não mérito, não depende de condições prévias. Teríamos então, dois evangelhos paralelos, respondendo a duas situações diferentes? A estreita dependência entre o mundo da riqueza e o mundo da pobreza exclui por princípio semelhante solução. Há um dado irrenunciável: o evangelho é um só e deve ser anunciado a todos. Por outro lado, o evangelho nunca é uma boa-nova para todos.

A bem-aventurança dos pobres não é uma boa-notícia para aqueles que transformaram o direito à propriedade (universal e inalienável) num privilégio. A bem-aventurança dos mansos não é uma boa-notícia para aqueles que à cordialidade preferem a agressividade e a violência. A bem-aventurança dos perseguidos por causa da justiça não é uma boa-notícia para aqueles que criam e sustentam sistemas injustos, ao mesmo tempo em que perseguem aqueles que lutam visando a criação de uma sociedade justa e fraterna.

Embora não possa haver um propósito deliberado de excluir pessoas, é a própria essência do evangelho que se revela naturalmente um divisor de águas. O evangelho é claramente um sinal de contradição. A Igreja primitiva parece ter compreendido esta realidade. Significativa é a menção de Lucas às palavras do velho Simeão dirigidas a Maria: “Eis que este menino foi colocado para a queda e para o soerguimento de muitos em Israel, e como um sinal de contradição” (Lc 2,34).

Sendo um anúncio de vida para todos, perder-se-ão pelo caminho aqueles que se comprometem com projetos que destroem a vida ou a transformam num privilégio para um grupo restrito de pessoas. Quem pretendesse, em nome de uma comunhão universal, impedir que o evangelho seja um sinal de contradição, estaria por isso mesmo traindo sua originalidade mais profunda. Isso porque ele não propõe uma fraternidade acima ou fora das relações históricas, mas nas relações históricas. E a história é o único espaço onde a fé e a esperança podem ser vividas. Aí está a razão de elas serem portadoras de uma dimensão essencialmente política.

Para que a opção preferencial de Jesus possa ter algum sentido sem que fique afetada a universalidade do anúncio, será preciso compreendê-la como uma opção hermenêutica. O mundo de pobreza e marginalização, enquanto sub-produto de um sistema injusto, torna-se o critério interpretativo que permite discernir a originalidade do evangelho. Sendo um anúncio de que Deus ama o homem, especialmente o pobre, e uma proposta de compromisso em favor da vida, ele tem seu encaixe justamente onde a vida é sufocada e se faz ouvir num desesperado clamor.

Num mundo marcado pelo desespero, o evangelho se faz portador de um anúncio de esperança, convocando os homens de boa vontade para um compromisso em favor da vida. É sintomático que Jesus, sintetizando a globalidade de sua missão, possa dizer: “Eu vim para que tenham a vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

Há, por conseguinte, uma evidente e inevitável exclusividade. Sua eliminação só é possível no trágico divórcio entre os fatos e as significações. Desligadas dos fatos, as significações não são mais a Palavra da Vida. Esta poderá ser utilizada também por aqueles que estão comprometidos com o sufocamento e a eliminação da vida. Desligada da Vida, a Palavra torna-se seu algoz.

4. A profecia dos oprimidos
Na história de Israel, a profecia representou uma instância crítica frente ao poder constituído principalmente quando, no abandono das tradições vitais (Iahweh comprometido com a vida do povo), ele se deformou até o ponto de comprometer-se com as forças geradoras de morte. Com o passar do tempo, perdeu-se essa dimensão política da profecia. Em sentido mais vulgar, ela degradou-se até o ponto de transformar-se em previsão de acontecimentos futuros.

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