Sete Sacramentos

O Sacramento da reconciliação

Conclusão
É necessário, conforme o papa Francisco escreveu na Misericordiae Vultus, que “a palavra do perdão possa chegar a todos, e a chamada para experimentar a misericórdia não deixe ninguém indiferente” (MV 19). Tal meta exige uma reconsideração do sacramento da reconciliação à luz de três dimensões: catequética, litúrgica e pastoral.

A dimensão catequética resgata o sentido salvífico e eclesial da reconciliação sacramental. A recuperação do sentido salvífico mostrará a reconciliação como evento pascal e encontro com Jesus Cristo, que não veio para chamar à conversão os justos, mas os pecadores (cf. Lc 5,32). A reafirmação do aspecto eclesial terá a vantagem de evidenciar o horizonte comunitário que possui tanto o pecado quanto a reconciliação. Se, por um lado, o pecado de um só fere toda a comunidade, por outro lado, a busca de perdão se encontra com a reconciliação que a comunidade toda lhe concede por meio da celebração sacramental.

Reconsiderar o sacramento da reconciliação à luz da dimensão litúrgica comporta manter vivo o espírito de renovação litúrgica do Vaticano II, que, a respeito desse sacramento, exorta para que “os ritos e as fórmulas da penitência sejam revistos de tal forma que exprimam mais claramente a natureza e o efeito deste sacramento” (SC 72), permitindo uma visibilidade maior da reconciliação do penitente com a comunidade e o exercício do sacerdócio de toda a comunidade (cf. RAMOS-REGIDOR, 1989, p. 363). Nessa perspectiva, o Novo Ritual da Penitência contempla três formas de celebração do sacramento: 1) reconciliação individual dos penitentes; 2) reconciliação de vários penitentes com confissão e absolvição individuais; 3) reconciliação de vários penitentes com confissão e absolvição geral.

A celebração comunitária da reconciliação é ainda uma opção pouco explorada. Às vezes, é adotada mais pela carência de ministros ordenados do que pelo valor que tal forma celebrativa tem em si. Quando isso acontece, dois perigos podem surgir. O primeiro é que, por causa de um número excessivo de penitentes, a confissão individual aconteça de forma mecânica e apressada. O segundo é que, em vez de ser uma celebração de comunidade, se torne uma celebração de massa, com perda do empenho pessoal de conversão de cada membro (cf. RAMOS-REGIDOR, 1989, p. 366-367). Já em 1977 os Bispos do Brasil, no documento Pastoral da penitência, alertavam:

As celebrações podem tomar caráter autenticamente comunitário ou ter apenas cunho coletivista. Um exame de consciência individualista considera só sua relação com Deus, faz da celebração ato coletivo, mas não comunitário. À medida que todos tomam consciência da dimensão comunitária do pecado e de suas implicações sociais e querem contribuir para que a comunidade saia do pecado, então temos uma celebração comunitária (CNBB, 1977, p. 406).

Para dar continuidade ao espírito do Ano Santo da Misericórdia, será muito proveitosa a revalorização de outras celebrações de reconciliação não sacramentais, como as liturgias penitenciais, que podem ser vividas em pequenos grupos ou famílias.

A terceira e última dimensão à luz da qual queremos reconsiderar o sacramento da reconciliação é a pastoral. Sabe-se que, a partir do Vaticano II, a moral rompeu o esquema individualista tradicional, assumindo uma concepção mais personalista e comprometida com a história. À medida que o sacramento da reconciliação atingir também os pecados sociais e estruturais, seguirá uma ação pastoral sempre mais moldada por uma reconciliação transformadora que não deixará as coisas como estão.

Nesse sentido, é ainda valida a exortação que o papa Francisco nos dirigiu no começo do Jubileu Extraordinário da Misericórdia:

Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade, e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para que sintam o calor de nossa presença, da amizade e da fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo (MV 15).

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