Entenda o que é a Santa Sé e o Estado da Cidade do Vaticano

Uma empresa, se não for bem administrada, é candidata à falência. Uma comunidade de fé, se não for bem administrada, perde seus fiéis. Em uma família mal administrada, os vícios e a bagunça tomam conta e destroem seus membros.
No âmbito das Igrejas particulares, é fundamental compreender que os bens da Igreja não pertencem ao padre e nem ao bispo. Estes têm a obrigação de zelar por aquilo que pertence à comunidade. Por isso, a sua estrutura deve ser sólida e profissional.
A sua organicidade exige a participação de cristãos leigos e leigas, como profissionais da área, colaborando para cuidar do que pertence à comunidade. Importante que os fiéis conheçam a estrutura e funcionamento dessa organização.
Assim, muitos comentários inúteis deixam de acontecer. A boa administração dos bens reflete a organização perfeita de tudo o que acontece na comunidade de fé.
No mais, a sociedade como um todo está cada vez mais ansiosa por mais transparência e seriedade. Um trabalho sério, sólido, passando por controles internos efetivos e objetivando a mitigação de riscos é necessário para trazer a perenidade e refletir a seriedade do trabalho nas instituições.
Considerando-se que a corrupção e suas nuances afetam todas as nações, é importante o avanço de iniciativas como esta, no sentido de demonstrar a importância de enfrentamento desse problema, ainda mais se levados em consideração o atual cenário pandêmico, que favorece a ocorrência de práticas corruptoras.
Tratados internacionais, a exemplo da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção, a Convenção Interamericana Contra a Corrupção e a Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários
Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Humano (OCDE) demonstram que os anseios da comunidade internacional vêm sendo atendidos.
Combater a corrupção é combater a violação de direitos humanos e, nesse sentido, a postura adotada pelo Papa, ao determinar à Santa Sé e ao Estado do Vaticano que “se adequem aos mais altos padrões internacionais de prevenção da corrupção, quer no exercício de suas funções públicas, quer no âmbito econômico”,
traduz o próprio tone at the top, expressão muito utilizada em compliance, no sentido de que a alta direção ou aqueles no mais alto grau da hierarquia devem dar o exemplo e apoiar medidas de combate à corrupção.
Dessa forma, a Santa Sé, ao tomar tais relevantes medidas, demonstra mais uma vez sua preocupação com a transparência, honestidade e com a construção da relação de confiança com os fiéis, cidadãos e com a própria comunidade internacional.
Monsenhor André Sampaio de Oliveira – Arquidiocese do Rio de Janeiro
Mestre e doutor em direito canônico pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma
Formado pela Pontifícia Academia Eclesiástica – Escola Diplomática da Santa Sé.