Adoração, devoção e veneração: existe diferença?

O culto das imagens sagradas na Igreja Católica não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos (Dt 6, 13-14). Pois, “a honra prestada a uma imagem remonta ao modelo original” e “quem venera uma imagem, venera nela a pessoa representada”. A honra prestada às imagens é uma “veneração respeitosa”, e não uma adoração, que é devida somente a Deus.
“O culto da religião não se dirige às imagens em si mesmas como realidades, mas as vê sob o seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não se detém nela, mas se orienta para a realidade de que ela é imagem”. Sendo assim, o culto de veneração aos anjos e aos santos em suas sagradas imagens não é um fim em si mesmo, mas tem por finalidade a elevação das almas a Deus e a maior glória da Santíssima Trindade.
A devoção de adoração e o culto de veneração
A palavra “adoração” é derivada do latim “adoratio”, que tem sua raiz nos termos “ad oro”, e significa “oro ou rogo-te”, em grego se diz λατρεια (latria) – e significa “adorar”, é um termo bíblico e teológico que significa a devoção ou culto que é prestado somente a Deus. O próprio Jesus Cristo nos deu essa Lei: “Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto” (Lc 4,8; cf. Dt 6,13).
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que “a adoração é o primeiro ato da virtude da religião. Adorar a Deus é reconhecê-Lo como tal, Criador e Salvador, Senhor e Dono de tudo quanto existe, Amor infinito e misericordioso”.
Adorar a Deus é reconhecer, com respeito e submissão absoluta, o nosso nada, que só por Deus existimos. Adorar a Deus é louvá-Lo, exaltá-Lo e humilhar-nos na sua presença, confessando com gratidão que Ele fez grandes coisas em nós e que o seu Nome é santo, como fez a Virgem Maria no Magnificat (cf. Lc 1, 46-49). Além disso, a adoração do Deus único liberta-nos do fechamento em nós mesmos, da escravidão do pecado e da idolatria do mundo.
Assim, vimos que toda a verdadeira devoção tem Deus como seu fim último. Sendo assim, a devoção de veneração, prestada aos anjos e aos santos, somente tem valor se nos faz crescer na fé, na esperança e na caridade, se nos leva a amar Deus de todo nosso coração, com toda nossa alma, com todo nosso espírito (cf. Mt 22, 37; Dt 6, 5) e ao próximo como a nós mesmos (cf. Mt 22, 39; Lv 19, 18).
Na veneração dos anjos e dos santos, glorificamos Deus, que é o fim último não somente da nossa devoção, mas também de toda a nossa existência. Dessa forma, compreendemos que a devoção de adoração diferencia-se da de veneração somente na forma que prestamos nosso culto a Deus: na adoração, prestamos culto a Deus em si mesmo; e na veneração, a Ele também, mas em suas criaturas.
Assim, entendemos que não há nenhuma contradição entre o mandamento divino: “Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto” (Lc 4,8; cf. Dt 6,13), e a devoção católica de veneração aos anjos e aos santos.