A modernidade e a Igreja católica

1.2 O processo de secularização
No contexto da modernização industrial e de mudança nas referências e costumes, foram desenvolvidos processos de secularização, através dos quais algumas esferas da vida social começaram a ganhar autonomia do âmbito religioso. Não devemos simplificar o conceito de secularização, certamente muito complexo; também não se pode limitar seu desenvolvimento a determinados períodos da história. É preferível conceber a secularização como “desenvolvimento contínuo, como um trabalho permanente da religião que nas nossas sociedades modernas é recomposta, realocada e adquire modalidades múltiplas, fragmentadas, subjetivas, talvez esquivas”. A secularização é – declara Di Stefano – “(…) por um lado, a transição dos regimes da cristandade para os da modernidade religiosa; por outro, a permanente recriação das identidades religiosas que essa passagem colocou em movimento” (DI STEFANO, 2011, p.4).
Na América Latina, este intrincado processo é mais evidente a partir da segunda metade do século XIX e impactou mais os setores intelectuais – influenciados por correntes de pensamento racionalistas e positivistas – e nas sociedades de cristianização tardia. A secularização seria sentida especialmente nos grupos de elite que, embora pequenos, desempenharam um papel de liderança na vida política, cultural e social. De qualquer forma, a Igreja Católica continuou a exercer ampla e profunda influência sobre vastos setores sociais e culturais.
Além disso, na maioria das repúblicas latino-americanas, o processo de secularização coincidiu com dois outros processos importantes, o que multiplicou debates e conflitos. Na verdade, a construção dos estados nacionais e a configuração das Igrejas católicas locais e romanizadas convergiram como processos não isentos de tensões. Além disso, estes processos também foram agentes e consequências do processo de secularização, que obrigava a estabelecer limites, determinar espaços específicos e redefinir a relação entre o religioso e o político (DI STEFANO, 2012, p.220-222).